Especialistas se reúnem para discutir restauração florestal no Brasil

Desafios da restauração foi tema discutido na V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica, que teve a participação do CIFOR-ICRAF Brasil
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Viveiro de plantas nativas: Restauração ecológica de paisagens depende de oferta de mudas. Lidia Lacerda/CIFOR-ICRAF

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O Brasil tem o desafio de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, compromisso anunciado pelo país em 2015. Mais recentemente, em junho de 2024, durante reunião do G20 no Brasil, o tema da restauração de ecossistemas degradados foi destacado como parte da bioeconomia.

Também em junho, o governo federal editou decreto lançando a Estratégia Nacional de Bioeconomia, que prevê o “estímulo à agricultura regenerativa, à restauração produtiva, à recuperação de vegetação nativa, ao manejo e à produção florestal sustentáveis, em especial de sistemas alimentares saudáveis”.

Estamos a seis anos do encerramento, em 2030, da Década para a Restauração de Ecossistemas, estabelecida pela Organização das Nações Unidas em 2021. A ONU afirma que nunca foi tão urgente reviver os ecossistemas danificados como agora. A Década para a Restauração de Ecossistemas visa prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos e, além da recuperação dessas áreas, tem o objetivo de ajudar a erradicar a pobreza, combater as mudanças climáticas e prevenir uma extinção em massa da biodiversidade.

Em apoio aos esforços pela restauração, a V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica, realizada em julho no campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), em Juazeiro (BA), foi espaço para debate técnico nacional promovido pela Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE).

Voltada para estudantes, técnicos, extensionistas, consultores privados, ambientalistas, gestores públicos, viveiristas, coletores de sementes, povos originários, quilombolas e defensores das florestas, professores e pesquisadores das áreas de restauração ecológica, espécies nativas, silvicultura e demais temas afins, envolveu durante cinco dias de palestras, debates e cursos, mais de 940 participantes inscritos – a maioria mulheres – vindos de todos os estados brasileiros.

Na plenária final da Conferência com o tema “Inovações para Restauração em Escala”, foi destacada a importância da união do conhecimento tradicional, científico e empírico e o reconhecimento a agricultores, quilombolas e Povos Indígenas, que lançaram a Carta dos Povos Indígenas do I Encontro Indígena de Restauração Ecológica à V Conferência da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica.

“O ambiente degradado é reflexo de uma sociedade degradada, que reflete pessoas com ambientes mentais poluídos, doentes e com déficit de natureza. Precisamos promover a restauração ecológica integral, conectando a cultura humana à natureza”, afirmou a moderadora da plenária Danielle Celentano, do Instituto Socioambiental.

CIFOR-ICRAF apoia esforços de restauração

Representante da equipe do CIFOR-ICRAF Brasil participou na V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica. O coordenador de Transição Agroecológica, Jimi Amaral, apresentou resumo de dois estudos, frutos da coleta de informações e análises realizadas de acordo com o contexto de implantação de projetos no estado do Pará.

“Estrutura e Biomassa da Regeneração Natural em Duas Regiões da Amazônia Oriental”, realizado pelos pesquisadores Saime Rodrigues, Saulo Souza, Martin Meier e Jimi Amaral, do CIFOR-ICRAF Brasil, e Paulo Rigo, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), foi o primeiro deles. O estudo é resultado de pesquisa realizada em duas mesorregiões Nordeste e Sudeste do estado do Pará e serviu de base para estimar o potencial de regeneração de quatro tipos de cobertura do solo mais comuns nas regiões.

O estudo serviu de linha de base para a verificação do aporte de biomassa e demostrou que no estrato inferior a biomassa foi proporcionalmente maior nas pastagens abandonadas e reduziu conforme o avanço da regeneração, mesmo assim, representou até 1/3 da biomassa em pousio avançado. Concluindo-se assim, que existe expressiva riqueza de espécies e significativa biomassa em formações em estágio inicial de regeneração que podem contribuir com a restauração ecológica e/ou produtiva.

A segunda apresentação foi sobre o estudo “Créditos de carbono nos resultados financeiros de SAFs na Amazônia Oriental”. Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) representam importante estratégia para recuperar ecossistemas degradados e melhorar meios de vida locais. Para aferir a contribuição de créditos de carbono nas receitas geradas em SAFs, a equipe de pesquisadores realizou análises financeiras de cinco opções agroflorestais com nove espécies comerciais principais.

Foram feitas projeções de crescimento das espécies arbóreas e emissões pelo uso de fertilizantes para obter o potencial de remoção líquida de gases do efeito estufa (GEE), subsidiando a análise financeira ex-ante realizada a partir de coeficientes técnicos coletados.

De acordo com Jimi Amaral, com base nas premissas utilizadas, os créditos de carbono representaram, em média, 2,9% do total das receitas, enquanto frutos frescos de dendê (Elaeis guineensis) e amêndoas secas de cacau (Theobroma cacao) representaram 36,3% e 32,6% do total, respectivamente.

“Conclui-se que, para a agricultura familiar, o contexto atual do mercado de carbono não é favorável para a adoção de arranjos agroflorestais que privilegiem a fixação de carbono em detrimento da produtividade de espécies comerciais, no entanto, apesar dos resultados menos expressivos do que os demais componentes citados, a participação dos créditos de carbono nas receitas pode complementar a renda para agricultura familiar, impulsionando a restauração ecológica”, afirmou.

Os resultados obtidos com as pesquisas vão subsidiar novas ações no nordeste do Pará.

O coordenador de Transição Agroecológica destacou também a importância de participação em congressos desse tipo. “Esses espaços reúnem a comunidade técnico-científica, tomadores de decisões e detentores de conhecimentos tradicionais, representando um rico espaço de polinização cruzada e sinergias para fortalecer as ações de restauração produtiva no Brasil”, concluiu Jimi Amaral.

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