Opções por Contexto, uma abordagem científica adequada às agroflorestas

Cientista do CIFOR-ICRAF, Andrew Miccolis, explica como promover sistemas agroflorestais adequados ao produtor
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Sistema agroforestal en parcela. CIFOR-ICRAF

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“Simplesmente copiar um modelo e pensar que ele terá sucesso, que terá escala, não funciona. O que funciona é chegar ao contexto e adaptar a solução.” Para Andrew Miccolis, cientista do CIFOR-ICRAF e coordenador da equipe do Brasil, esta é uma conclusão importante que ele – como outros de seus colegas – alcançou após mais de dez anos de experiência liderando iniciativas destinadas à avaliação, projeto e ampliação de opções agroflorestais.
Em uma edição especial de uma revista científica, os investigadores Fergus Sinclair, do CIFOR-ICRAF, e Ric Coe, da Universidade de Bangor, reuniram evidências que propõem a abordagem “Opções por Contexto” (OxC) como uma mudança de paradigma na agronomia, impulsionada pelas variadas interações de opções de acordo com o contexto para os agricultores, que afetam a tomada de decisões.

No campo dos sistemas agroflorestais, a abordagem OxC reconhece que a adoção e os fatores de sucesso da implementação de uma prática agroflorestal dependem das circunstâncias em que as famílias operam e dos contextos socioecológico, de mercado, de governança e institucional. Segundo Miccolis, “não é como chegar com um pacote, não são modelos para copiar. É uma forma de olhar, analisar e desenvolver com todas as pessoas envolvidas qual a melhor solução para aquele contexto.”

Para uma melhor compreensão, conversamos com Andrew Miccolis sobre esta abordagem que está na base da proposta de opções agroflorestais “sob medida” que o CIFOR-ICRAF promove na região latino-americana e no mundo. Andrew está convencido de que esta é a maneira de promover a adoção e escalar os sistemas agroflorestais.

O que é a abordagem Opções por Contexto (OxC) e por que é útil para os sistemas agroflorestais?
Opções por Contexto é uma abordagem que busca aumentar a adoção de agroflorestas em diferentes escalas (parcela, fazenda, paisagem) para beneficiar um maior número de pessoas. Com base nesta abordagem reconhecemos que a adoção e os fatores de sucesso da implementação de uma prática agroflorestal dependem das circunstâncias em que as famílias operam e dos contextos socioecológico, de mercado, de governança, institucional e outros.

Como essa abordagem pode ser colocada em prática?
Para operacionalizar o OxC utilizamos uma metodologia que se baseia em um diagnóstico para compreender o contexto nas suas diferentes escalas. Com este diagnóstico conheceremos os objetivos e aspirações dos agricultores, os fatores de degradação, as características biofísicas (clima, solo, etc.), e o acesso aos recursos que possam permitir a adopção da agrofloresta (financeira, laboral, conhecimento, organização social, acesso a políticas, mercado). Essas informações servem para entender os fatores limitantes da adoção.

O próximo passo é o co-desenho de opções agroflorestais onde as práticas agroecológicas são definidas e as espécies são selecionadas de acordo com determinados critérios e com base no diagnóstico. Em seguida vem a fase de implementação; isto é, o estabelecimento, em conjunto com agricultores e técnicos, de unidades demonstrativas. Trata-se de desenvolver sistemas agroflorestais adaptados ao contexto local, que pode ser uma única família, uma comunidade ou uma área específica. Para isso desenvolvemos algumas ferramentas como PlantSAF, AmazonSAF.
No final monitoramos e analisamos os trade-offs, ou seja, onde perde e onde ganha. Um sistema pode ser mais interessante em termos ecológicos e menos em termos financeiros, ou pode ser interessante socialmente, mas não tanto do lado financeiro; assim voltamos ao co-desenho para melhorá-lo. Dessa forma, dependendo do contexto, atingem-se diferentes sistemas.

Por que esta abordagem é importante para o avanço dos sistemas agroflorestais?
Com o conhecimento do contexto, podemos chegar aos formuladores de políticas, ao governo, às agências e aos cientistas e, assim, talvez mudar ou influenciar o próprio contexto. Ao realizar o diagnóstico em 20 ou 50 explorações, chega-se à conclusão de que existem alguns padrões que se repetem. Por exemplo, se num contexto o que mais falta é mão de obra qualificada, sementes, mudas, maior organização social, etc. OxC permite-nos olhar para a situação e co-desenhar sistemas para aquela situação ou contexto específico. O que mais vemos em sistemas agroflorestais são técnicos com boas intenções em ensinar um sistema agroflorestal, mas onde não considera como os produtos serão vendidos, onde e para quem, etc.

 

Andrew Miccolis, científico principal de CIFOR-ICRAF y coordinador del equipo de Brasil. Foto: Valentina Robiglio/CIFOR-ICRAF

Como esta abordagem é sustentável do ponto de vista de adoção e expansão?
Tentamos desenvolver soluções um pouco mais flexíveis e adaptáveis. A adaptação é necessária para a adoção de sistemas agroflorestais. O tema central da nossa abordagem, da nossa teoria da mudança – que está sendo comprovada na prática que funciona – é que quando você adapta a solução para que as pessoas se apropriem dela, para que se sintam donas, pais e mães da solução, ocorre a adoção. Fornecemos a estrutura para isso.
Simplesmente levar e vender um sistema como modelo não funciona para dar escala a agrofloresta, porque as pessoas não vão adotá-lo, ou se o fizerem, não conseguirão fazer da mesma forma, porque não têm recursos ( não têm mão-de-obra, falta fertilizante, não têm conhecimentos para gerir um sistema específico, para dar alguns exemplos). Não estamos promovendo um sistema agroflorestal como um fim, estamos promovendo um método para chegar ao sistema que melhor se adapta ao produtor, e baseado em evidências, como o diagnóstico.

Desde quando o CIFOR-ICRAF trabalha com esta metodologia?
Em 2016 iniciamos projeto no Brasil com a The Nature Conservancy chamado Cacau Floresta para avaliar sistemas agroflorestais com cacau do ponto de vista financeiro, mas onde propusemos olhar também para alimentação, meios de subsistência, gênero, degradação ambiental; olhar a propriedade de forma mais integrada, sob o enfoque paisagístico, e foi aí que desenvolvemos a ferramenta PlantSAF com a Embrapa.

Do que depende o sucesso desta abordagem?
A abordagem pode funcionar em qualquer contexto, mas a adoção é outra questão. Depende de fatores externos e contextuais. Se houver conhecimento e experiências agroflorestais isso ajuda muito. Trabalhamos sempre com o mesmo conceito de ter unidades demonstrativas, que não é só fazer co-desenho; requer a continuação da assistência técnica à gestão. Se você introduzir uma nova tecnologia em uma região onde não há nada muito parecido ou onde as pessoas não estão familiarizadas com a agrofloresta, vários fatores são necessários para que você tenha sucesso.
A abordagem OxC é interessante porque ajuda a identificar quais são esses fatores e por isso é útil para qualquer contexto. Por exemplo, realizamos oficinas com agricultores e pecuaristas em Minas Gerais e perguntamos quantos já tinham ouvido falar de sistemas agroflorestais e ninguém levantou a mão – eles nem tinham ouvido falar. Lá conseguimos identificar que o conhecimento era um problema muito sério e investimos muito nisso. A abordagem ajuda a analisar a situação e desenvolver não só a solução tecnológica, mas também o que chamamos de governança.

E quais são os desafios para avançar com a OxC?
O maior desafio não está nos agricultores, está na formação dos técnicos nesta abordagem porque geralmente estão habituados a fornecer soluções “prontas” e não a trabalhar nesta perspectiva de construção coletiva. Pela nossa experiência, os técnicos gostam muito da abordagem OxC, o que acontece é que os projetos agroflorestais não investem muito nisso porque demanda mais tempo e recursos. No entanto, isso aumenta a probabilidade de adoção.
Outro desafio é como fazê-lo funcionar em projetos curtos e com financiamento reduzido. É fundamental continuar com o trabalho iniciado. Por exemplo, com o nosso trabalho nas unidades demonstrativas ganhamos muito, porque o sucesso ocorre quando – e somente quando – os agricultores estão envolvidos e interessados, como em Ucayali e San Martín no Peru. As organizações de cooperação e os doadores têm aqui uma oportunidade porque estas unidades demonstrativas são o futuro da disseminação da agrofloresta na Amazônia peruana; eles são os pioneiros e será uma referência tecnológica, um centro onde poderão aprender e inovar, trocar experiências e inspirar agricultores e técnicos de outras regiões.

 

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