
FORESTS NEWS
/ 9 May 2025
Cinco ações urgentes para proteger as florestas do mundo na próxima década
Reflexões de um grupo diverso de vozes a partir do GLF Forests 2025
Nota do editor: Este é um artigo traduzido e adaptado de um originalmente publicado em inglês no ThinkLandscape do Global Landscapes Forum, escrito por Ming Chun Tang.
Neste ano, em novembro, líderes mundiais se reunirão no coração da Amazônia para redigir e avançar acordos sobre o mais recente (e muito criticado) pacto da COP29 do ano passado. Essas conversas cruciais ocorrerão em um momento em que projeções indicam que o aquecimento global está a caminho de alcançar 2,7 °C — ou até 3,1 °C — até o ano de 2100.
Se isso acontecer, restará algo da Amazônia — ou de qualquer outra grande floresta do mundo — até lá? O que for alcançado na próxima década definirá o futuro das nossas florestas e de tudo o que depende delas.
Por isso, o CIFOR-ICRAF e o Global Landscapes Forum (GLF) reuniram cerca de 3000 pessoas, virtualmente de todas as partes do mundo e presencialmente em Bonn, Alemanha, em um diálogo cujo objetivo foi colocar na mesa as ações urgentes que devem ser implementadas para salvar as florestas do mundo que ainda restam, enquanto ainda há tempo.
A seguir, cinco propostas que emergiram durante o GLF Florestas 2025: Definindo a próxima década de ação.

Foto: Aris Sanjaya/GLF
- Reforçar o respeito às leis
Há uma razão clara pela qual o mundo perde 10 milhões de hectares de floresta a cada ano: os governos não têm cumprido suas promessas de protegê-las.
“Se o desmatamento fosse um país, seria o quarto maior emissor, atrás apenas dos EUA, China e Índia”, afirmou Hermine Kleymann, chefe de políticas da prática florestal do WWF Internacional. “Com 6,37 milhões de hectares desmatados em 2023, estamos 45% acima da meta necessária para acabar com o desmatamento até 2030, como acordado na COP26”.
O país anfitrião da COP30, o Brasil, acredita que ainda há tempo para mudar o rumo e fazer com que o mundo atue em conjunto antes que seja tarde demais.
“Precisamos fortalecer o multilateralismo: é a única forma de avançar na agenda climática e proteger nossos bens públicos globais”, afirmou Alice de Moraes Amorim Vogas, chefe da Unidade Extraordinária de Assessoria para a COP30 do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil. “Quando falamos em ação, não se trata de compromissos nem de promessas, e sim de implementar ações reais”.
Essa ação não se refere apenas a governos assinando acordos e implementando-os de cima para baixo. Também significa estabelecer parcerias com comunidades locais e povos indígenas, que têm um histórico impecável na gestão de seus territórios.
“A maioria das políticas florestais globais é muito vertical, com métricas centradas em metas de carbono ou biodiversidade”, apontou Camille Rivera, cofundadora da Oceanus Conservation. “Precisamos de colaborações em que possamos cocriar com as comunidades locais, porque para elas, o sucesso está ligado à sobrevivência”.
- Defender os direitos locais
“Proteger os povos indígenas e seus territórios é proteger a sua própria vida — e a do planeta”
Como realmente incorporamos a liderança dos povos indígenas e das comunidades locais? Um primeiro passo essencial é reconhecer e defender seus direitos sobre o território.
“Delimitar e proteger os territórios indígenas não é apenas uma questão ambiental; é uma grande contribuição para a economia”, afirmou Celia Xakriabá, ativista indígena brasileira e deputada federal pelo estado de Minas Gerais.
Xakriabá citou um estudo que mostra que 80% do agronegócio na Amazônia depende da chuva — e que os padrões de chuva dependem das árvores da floresta amazônica, muitas das quais estão em território indígena. “Proteger os povos indígenas e seus territórios é proteger a sua própria vida — e a do planeta”, concluiu.
Outra forma crucial de proteger os direitos territoriais é criar espaços de mediação nos conflitos por uso da terra e dos recursos, como os Bosques Modelo.
“Os Bosques Modelo são baseados em parcerias: colaborações entre atores-chave que representam diversos setores econômicos, interesses e valores, unidos para gerir suas paisagens, ecossistemas e recursos naturais”, explicou Róger Villalobos, presidente da Rede Latino-Americana de Bosques Modelo (RLABM).
Max Yamauchi Levy, gerente de projetos na EcoAgriculture Partners e membro da Rede Internacional de Bosques Modelo (IMFN), compartilhou a experiência do Bosque Modelo do Pantanal, localizado nos pântanos do sudoeste do Brasil. Em 2023, o projeto reuniu atores de comunidades locais, ONGs, formuladores de políticas e uma empresa de mineração para explorar oportunidades de colaboração.
“Com comunicação e integração, esse primeiro encontro já resultou em um diálogo e no início de um processo valioso que continua até hoje”.
3. Impulsionar a bioeconomia florestal
As florestas não apenas nos fornecem oxigênio, abrigam biodiversidade, regulam o clima e purificam o ar e a água. Também são fontes de materiais essenciais: madeira, alimentos, lenha e medicamentos.
Se conseguirmos conservar e gerir nossas florestas de forma sustentável, poderemos aproveitar os enormes benefícios econômicos que oferecem e gerar uma ampla gama de empregos.
“A perda de florestas não é apenas um problema ambiental: afeta diretamente os meios de vida das comunidades locais e suas economias”, destacou Paul Garaycochea, diretor de cadeias de abastecimento sustentáveis e sistemas agrícolas e alimentares do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ). “Proteger as florestas não é apenas um dever moral e ambiental, mas também uma necessidade econômica e social”.
Por outro lado, se pusermos fim ao desmatamento e restaurarmos 350 milhões de hectares de florestas tropicais, poderíamos gerar 100 mil empregos e serviços ecossistêmicos no valor de 170 bilhões de dólares anuais, segundo Robert Nasi, diretor científico do CIFOR-ICRAF.
Para isso, será necessária mudança profunda no modelo econômico atual, incluindo uma transição justa para uma economia que realmente valorize a natureza.
“Temos um paradigma de desenvolvimento econômico esgotado”, disse José Campos, diretor executivo da Rede de Agricultura Sustentável. “Estamos destinando trilhões de dólares em subsídios à agricultura e aos combustíveis fósseis”. “Isso precisa mudar”.

Foto: Aris Sanjaya/CIFOR-ICRAF
- Investir em um futuro florestal
As comunidades locais precisam de grandes volumes de financiamento para continuar construindo a economia da restauração de que precisamos.
“Precisamos de investimentos sustentados na restauração de ecossistemas”, afirmou Christine Vale, oficial de desenvolvimento hídrico no Conselho de Gestão do Bosque Modelo da Bacia do Carood, em Bohol, Filipinas. “Projetos de curto prazo geram impactos de longo prazo. Pedimos mecanismos de financiamento estáveis e liderados pelas comunidades”.
“Devemos mobilizar não apenas fundos públicos, mas também investimentos privados de alto nível, tanto em mercados de carbono quanto em colaboração com a agricultura e outros setores, para tornar sustentáveis suas cadeias de valor”, acrescentou Hege Ragnhildstveit, diretora interina e assessora principal na Iniciativa Internacional sobre Clima e Florestas da Noruega (NICFI).
“REDD+ tem incentivado os países a aprimorar seu monitoramento florestal”, afirmou Christopher Martius, assessor sênior em Mudança Climática, Energia e Desenvolvimento de Baixas Emissões no CIFOR-ICRAF.
O CIFOR-ICRAF apresentou os resultados do Estudo Global Comparativo sobre REDD+ (GCS REDD+), que ao longo de 15 anos gerou evidências sólidas e ferramentas práticas para melhorar a efetividade das iniciativas REDD+.
Foi destacado que, em 2020, cerca de 100 países foram classificados como ‘bons’ ou ‘muito bons’ em monitoramento florestal, em comparação com apenas 55 em 2005. No entanto, esse avanço enfrentou diversos desafios. “Existem relatórios parciais e níveis de referência fracos, o que compromete a confiança e a integridade dos dados”, explicou. “Também há problemas metodológicos, e muitos elementos-chave foram omitidos do marco do REDD+, seja intencionalmente ou para não afetar demais a soberania nacional.”
Apesar dessas limitações, bem como dos desequilíbrios de poder e interesses instalados, Martius sustenta que, mesmo com os desafios, o REDD+ continua sendo uma ferramenta chave para o financiamento climático, da qual se podem extrair importantes lições para seu aprimoramento e eficácia.
“Pagar aos países para conservar suas florestas não foi tão simples como se pensava no início, e esses mecanismos levaram tempo para se desenvolver”, refletiu.
- Usar novas ferramentas e coordenar diversas disciplinas
Embora a inteligência artificial esteja se mostrando uma ferramenta poderosa contra o desmatamento, ela também já começa a consumir uma parte considerável do nosso orçamento de carbono.
Como fazer com que funcione a favor do planeta e não contra ele?
Uma das principais ofertas da IA parece ser sua capacidade de analisar grandes volumes de informação, incluindo a integração de diferentes tipos de dados, facilitando sua interpretação pelas pessoas.
“Provavelmente todos nós já usamos o ChatGPT, e com a nova IA generativa, há muito mais que podemos fazer para consultar dados”, observou Fred Stolle, diretor de impacto do Land & Carbon Lab no World Resources Institute (WRI). “Em breve, será possível simplesmente digitar ‘quanta perda de cobertura florestal houve no Congo?’ ou ‘quanto houve no meu distrito?’ Não será mais necessário ser um analista espacial para acessar esses dados”.
Na África Central, onde se utilizam ferramentas digitais como o sensoriamento remoto juntamente com a observação de campo, a inteligência artificial está facilitando a integração dessas fontes de dados.
“As ferramentas digitais precisam de validação em campo para evitar vieses de interpretação”, explicou Stéphane Momo, ecólogo tropical e bolsista de pós-doutorado na Universidade de Liège. “Ao mesmo tempo, as observações de campo se beneficiam dessas ferramentas digitais, pois permitem otimizar o levantamento e detectar dinâmicas invisíveis ao olho humano”.
Essa interdependência traz desafios na África Central, onde geralmente faltam dados de campo.
“Na África Central, ainda há uma grande carência de dados de campo para validar esses conjuntos de dados, o que é essencial para garantir o uso com precisão e aproveitar ao máximo seu potencial”, destacou Elsa Ordway, professora assistente de ecologia e biologia evolutiva na Universidade da Califórnia, Los Angeles.
Outros desafios incluem questões de equidade, soberania dos dados e risco de perda de empregos.
Um tema central que atravessou essa discussão — assim como todas as outras tratadas durante o evento — foi a urgência de promover a colaboração entre setores e construir coalizões para proteger tanto as florestas quanto as pessoas.
“Na próxima década, o desafio será como otimizar as sinergias entre ferramentas já existentes e outras emergentes como a IA”, disse Denis Sonwa, diretor de pesquisa, dados e impacto no WRI África. “Precisamos considerar não apenas o conhecimento científico, mas também os saberes das comunidades locais. A palavra-chave aqui é: coordenação entre disciplinas.”
Este trabalho foi realizado como parte do Estudo Global Comparativo sobre REDD+ do Centro para Pesquisa Florestal Internacional (www.cifor.org/gcs). Os parceiros financeiros que apoiaram esta pesquisa incluem a Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento, a Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) do Ministério Federal do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha (BMU) e o Programa de Pesquisa do CGIAR sobre Florestas, Árvores e Agroflorestas (CRP-FTA), com apoio financeiro dos doadores do Fundo CGIAR.
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